29/11/17

Direitos das crianças


 M. - 7;3(10)

Comemorou-se, a 20 de Novembro, mais um   Dia Universal dos Direitos das Crianças. Foi neste dia, em 1959, que se proclamou mundialmente a Declaração dos Direitos das Crianças e a 20 de Novembro de 1989 que se adoptou a Convenção sobre os Direitos da Criança , com o objectivo de salientar e divulgar os direitos das crianças de todo o mundo, consciencializar a população para a situação das crianças no mundo e para a necessidade de agir no sentido da promoção do seu bem-estar e do seu desenvolvimento saudável.
Todos conhecemos  os Direitos das Crianças que, basicamente, são os Direitos Humanos, como o direito à vida, à liberdade, à protecção contra a violência, à não discriminação, a um nome  e uma nacionalidade, à alimentação, habitação, a brincar,  saúde, educação...

Tenho-me dedicado, especialmente, a defender e promover a aplicação do artº 6º da Declaração,  que diz:
“A criança precisa de amor e compreensão para o pleno e harmonioso desenvolvimento da sua personalidade.
Na medida do possível, deverá crescer com os cuidados e sob a responsabilidade dos seus pais e, em qualquer caso, num ambiente de afecto e segurança moral e material; salvo em circunstâncias excepcionais, a criança de tenra idade não deve ser separada da sua mãe. A sociedade e as autoridades públicas têm o dever de cuidar especialmente das crianças sem família e das que careçam de meios de subsistência. Para a manutenção dos filhos de famílias numerosas é conveniente a atribuição de subsídios estatais ou outra assistência.”

Apesar da evolução que tem havido no nosso país, em que a maioria das crianças tem os seus “direitos básicos” assegurados, temos que melhorar em muitos aspectos. Um deles diz respeito à promoção da Saúde Psicológica.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) apresenta alguns dados que  merecem ser reflectidos :
- O aumento do número de crianças que sofrem de problemas de Saúde Psicológica relacionados com violência nos vários contextos em que vivem;
- O nível de pobreza e de exclusão social (2,6 milhões de Portugueses em risco);
- As falhas nos apoios às crianças / jovens com Necessidades Educativas Especiais (NEE);
- As crianças em idade escolar são muitas vezes vítimas de bullying – cerca de 1 em cada 5 – estimando-se que apenas 10% a 15% recebam a ajuda de que precisam;
- Em 2016, 3,7% das crianças e jovens Portuguesas (71.016) foram  acompanhados pelas Comissões de Promoção e Protecção das Crianças e Jovens (CPCJ), cerca de 33% das mesmas por "Exposição a Comportamentos que podem comprometer o bem-estar e o desenvolvimento" e 8,6% devido a maus-tratos: físicos (4,8%), psicológicos (2,1%) ou a abuso sexual (1,7%).

Refere ainda a OPP que a "violação" destes Direitos afecta o dia-a-dia das crianças e  o seu futuro:
- está associada ao insucesso e abandono escolar, ao aumento da violência, à instabilidade no emprego ou ao défice no funcionamento social,
-  a vulnerabilidades emocionais, à psicopatologia,
- e à transmissão intergeracional de padrões de relacionamento e de comportamento disfuncionais que se reflectirão nas gerações futuras.
- "Muitos destes padrões conduzem frequentemente a uma espiral de desvantagens e de vulnerabilidades, difíceis de reverter, e que representam custos sociais e económicos elevados, contribuindo para um País mais desigual e com menos coesão social.”

Neste dia, como em todos os dias, é necessário defender e promover os Direitos das Crianças de forma a que cada criança tenha “o amor e compreensão de que necessita para o desenvolvimento da sua personalidade".

Hoje apetece-me ouvir: George Harrison

 
George Harrison, (25/21943 – 29/11/2001)
 Dear One

24/11/17

Tudo tem um fim

Seria mais um jantar... não fora  dar-se o caso de o sr. primeiro ministro resolver reagir estranha e excessivamente ao repasto da web summit, isto é, da cimeira tecnológica, “a maior conferência tecnológica do mundo”.
É realmente uma reunião de negócios importante*, em forma de show off. Por isso, estiveram lá "todos": 1º ministro, presidente da câmara municipal de Lisboa e até Marcelo.
Terminou (11/11/17) com "um jantar exclusivo com convidados da Web Summit na nave central do Panteão Nacional, em que participaram presidentes executivos, fundadores de empresas e ‘startups’, investidores de alto nível, entre outras personalidades. O jantar em questão chama-se ‘Founders Summit’…" (Observador)
Provavelmente a indignação do sr. primeiro ministro  terá nascido da intuição de que havia ali matéria para responsabilizar o governo anterior por tamanha falta de respeito aos nossos maiores.
Vai daí, reagiu assim: “A utilização do Panteão Nacional para eventos festivos é absolutamente indigna do respeito devido à memória dos que aí honramos”, referiu o gabinete do primeiro-ministro, em comunicado. Acrescentou que a situação estava contemplada num “despacho proferido pelo anterior Governo” e informou que vai alterar o regime “para que situações semelhantes não voltem a repetir-se, violando a história, a memória coletiva e os símbolos nacionais”. (TSF)
O Panteão Nacional pode não ser local apropriado para fazer jantares de negócios, para alguns até pode ser, como foi, mas o mesmo não se diga relativamente a outros eventos culturais de qualquer das áreas, por exemplo, onde brilharam e continuam a brilhar alguns dos heróis nacionais cujos restos mortais repousam naquele edifício.
Para além disso, o que há aqui que mereça perder mais tempo com este ”caso”?
1. Mais uma vez este governo nega a responsabilidade que lhe compete em acontecimentos negativos ou controversos...
Ora vai-se a ver este parece ter sido o 10º jantar ocorrido no local, o Panteão Nacional. Além disso, quando o primeiro ministro era presidente da câmara de Lisboa, também decorreu aí um jantar similar...

2. O sítio, Panteão Nacional, podia ser o local certo para mostrar a vida efémera do ser humano e, logo, da  web summit, se esse fosse o objectivo deste jantar.  E é aqui que pode residir o engano ou a claridade.
Em  entrevista a Clara Ferreira Alves (Expresso,     ), a propósito do seu último livro, A estranha ordem das coisas, António Damásio procura consciencializar para que "tudo tem um fim", alertar para o que se passa em Silicon Valey onde tudo parece ser possível no futuro, criar tudo, até eventualmente dar vida a robots. "Silicon Valey terá um despertar doloroso" porque aquilo que não estão a perceber é que "tudo tem um fim".  Podem até criar robots mais inteligentes que o ser humano, porém nunca lhe poderão dar sentimentos como acontece com os humanos.
Damásio refere no seu livro que  " Parte das sociedades que celebram a ciência e a tecnologia modernas, e que mais lucram com elas, parece estar numa situação de bancarrota “espiritual”, tanto no sentido secular como religioso do termo. A julgar pela aceitação despreocupada das crises financeiras problemáticas – a bolha da Internet de 2000, os abusos hipotecários de 2007 e o colapso bancário de 2008 – parecem igualmente estar numa situação de bancarrota moral. Curiosamente, ou talvez não tanto, o nível de felicidade nas sociedades que mais beneficiaram com os espantosos progressos do nosso tempo mantém-se estável ou em declínio, caso possamos confiar nas respectivas avaliações.(p.290-291)

3.O fait divers ou o erro de uma decisão, se o foi, foi da responsabilidade dos serviços tutelados por A Costa, veio por a nu a questão essencial com que se depara a humanidade, a sua finitude, e de como aqueles que pensam que tudo é possível, até a imortalidade, faz com que os panteões de hoje sejam os pandemónios de amanhã.

_________________________
* "Em certos setores da sociedade portuguesa, há ainda algum ceticismo relativamente à importância da Web Summit. As críticas incidem em questões que vão desde o deslumbramento tecnológico ao retorno económico do evento, passando pela descrença na viabilidade, competitividade e valor das startups. Existe também quem se limite a valorizar o evento pelas receitas turísticas que produz e pela promoção internacional do país, o que é manifestamente redutor.
A questão mais importante é certamente a do retorno económico da Web Summit, na qual o Estado português investe 1,3 milhões de euros por ano. Ora, sobre o impacto imediato já há dados concretos: em 2016, o retorno direto do evento foi de 200 milhões de euros e, nesta edição, prevê-se que seja de 300 milhões, subida que se justifica pelo aumento do número de participantes. Já o retorno indireto, que é de facto o que interessa ao país, é mais difícil de contabilizar, não só por se tratar de um impacto a médio/longo prazo, mas também por gerar um valor muitas vezes intangível."Vale a pena continuar a acolher a Web Summit?"  Adelino Costa Matos, Presidente da ANJE 14 Nov 2017.

09/11/17

Cem anos de complexo de esquerda


A  7 de Novembro, passaram cem anos da  revolução russa. As repercussões infelizmente foram brutais não só para esse país que foi a sua principal vítima, como para mais alguns, provocando milhões de vitimas. Mesmo assim, muitos anos depois, ainda há quem comemore esta tragédia.

Logo a seguir ao 25 de Abril, em Junho de 1974, esquerda e direita eram definidas assim  na "Cartilha política do povo":
"Esquerda. Esta palavra aplica-se aos membros de um partido com ideias avançadas, ideias de progresso. Opõe-se à direita, aos conservadores. Na esquerda militam aqueles que consideram injusta para os trabalhadores a situação de explorados. A esquerda é mais uma classificação de pensamento e de actuação política do que uma situação social. Há com efeito, cidadãos bem situados na vida que militam na esquerda para lutarem pelos trabalhadores e por uma maior justiça social….”
"Direita. Este termo relaciona-se com as individualidades que no Senado ficavam à direita do presidente e eram conhecidas pelas suas ideias conservadoras. Hoje o termo emprega-se em política para referir a todos os que não desejam mudanças, que querem o "statu quo" (aquilo que está) e como está. A direita é formada por um conjunto de elementos já instalados na sociedade, geralmente ricos e com uma certa idade, que procuram defender as suas posições de modo a que a sua riqueza, o seu poder e os seus privilégios não sejam abalados pelo povo.”
Desde então tem sido esta concepção que prevalece. Nestas definições é óbvia a preferência pela esquerda mas é evidente que não corresponde à realidade vivida pelas pessoas, designadamente dos países onde  há ou houve ditaduras de esquerda.

Acontece que "... a política portuguesa mudou desde há quase um ano e tem agora uma nova semântica. A oposição entre esquerda e direita voltou à primeira página. No poder e a tentar construir uma solução parlamentar inédita, a esquerda reintroduziu uma liturgia repetitiva que agora serve de pensamento. O que é de esquerda é bom. O que é de direita é mau. E não há mais espaço para argumentação. O Partido Socialista tem-se deixado contaminar por este palavreado." António Barreto,"outono socialista, DN, 14-8-2016.
Ora o problema é, quando nesta história de bons e maus, a esquerda se auto-avalia como a parte boa.
O complexo de superioridade marxista faz sempre uma  auto avaliação positiva das suas realizações e são sempre a maneira de se afirmar na sociedade, para justificar os abusos, no fundo, a sua falência. Têm o único instrumento para análise correcta da sociedade: o marxismo-leninismo. Por isso, consideram-se mais inteligentes** mas também "moralmente superiores", como refere Álvaro Cunhal: “Os comunistas não se distinguem apenas pelos seus elevados objectivos e pela sua acção revolucionária. Distinguem-se também pelos seus elevados princípios morais.”

De facto, quando tudo o que fazem, acham eles, é para bem do povo, certamente os meios são justificados pelos fins, mesmo quando isso implique liquidar  milhões de adversários, discordantes ou inocentes que nada tiveram a ver com facções políticas.
Eles acham que são (d)o bem, são a esquerda, a verdadeira esquerda, não a  infantil, não revisionista, não maoista, ou a verdadeira esquerda marxista-leninista-maoista... Automaticamente, acham que a esquerda é tudo o que está bem e a direita tudo o que está mal. Não há mais variações. Não há mais nada, apenas a esquerda e direita que eles  próprios definem. Não há extrema esquerda ou se há é democrática mas há de certeza extrema direita que não tem direito a existir porque é anti-democrática e fascista. Talvez seja por isso que “os fascistas do futuro chamam-se a eles próprios antifascistas”. (Frase atribuída a Winston Churchill)

_____________________
* José Pires, Paulo da Trindade Ferreira, M, Helena de Sá Dias, Vítor Melícias Lopes.
** Até há estudos que o provam (!). Ex.: Os "de esquerda" são mais inteligentes, afirma estudo;Why Liberals Are More Intelligent Than Conservatives.

01/11/17

Para além da crise e dos especuladores

  As primeiras cegonhas chegaram, hoje, a Castelo Branco.

Até Putin !

O memorial feito por Frangulyan
Gueorgui Frangulian... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2017/10/30/putin-repudia-repressoes-na-urss-ao-inaugurar-muro-da-dor-em-moscou.htm?cmpid=copiaecola
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 "Muro da dor"- Do arquitecto Gueorgui Frangulian
Gueorgui Frangulian... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2017/10/30/putin-repudia-repressoes-na-urss-ao-inaugurar-muro-da-dor-em-moscou.htm?cmpid=copiaecola
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Gueorgui Frangulian... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2017/10/30/putin-repudia-repressoes-na-urss-ao-inaugurar-muro-da-dor-em-moscou.htm?cmpid=copiaecola
 Daqui

"Putin inaugura memorial às vítimas da repressão política". (Agence France-Presse (AFP), 30 de Outubro de 2017).
"O presidente da Rússia, Vladimir Putin, inaugurou na tarde de segunda-feira em Moscou o chamado “Muro da Dor”, um memorial dedicado às vítimas da repressão política na URSS. O memorial, escolhido por concurso, é o projeto de maior envergadura apoiado pelo Estado, feito em lembrança aos mortos nos períodos de terror após a revolução bolchevique de 1917. Esse acontecimento histórico, sobre o qual os russos ainda não chegaram a um consenso, completa um século no próximo dia 7 de novembro. “Esses crimes não podem ter nenhuma justificativa”, disse Putin na cerimônia. A abertura do memorial é, para o presidente russo, “especialmente atual no ano do centenário da revolução”... 
"A inauguração de um monumento nacional às vítimas do terror foi uma ideia expressada pelo líder comunista Nikita Khrushchov em 1961, que a Associação Memorial, dedicada a manter viva a memória histórica, resgatou nos últimos anos da URSS. Putin deu forma a ela em setembro de 2015 ao assinar o decreto para a construção do monumento. Um total de 170 pedras procedentes de diversos campos de concentração do Gulag, de Solovki a Kolimá, foram utilizadas na confecção do conjunto escultórico, que ocupa mais de 5000 metros quadrados em torno a um muro de bronze com um baixo-relevo no formato de atormentados corpos humanos, onde é possível ler a palavra “lembre” em vários idiomas." 

Por cá, "PCP continua a falsificar a História". "O PCP criou um site para celebrar os 100 anos da revolução bolchevique de 1917, mas abre-o logo com uma fotografia falsificada de Lenine. Trata-se apenas da primeira de muitas falsificações históricas",  José Milhazes, O Observador, 24/6/2017.  


Para um sistema de saúde (2)


Alguns subsistemas de  saúde

O sistema de saúde em Portugal é constituído por uma rede de equipamentos e serviços de saúde, composta de vários subsistemas de saúde que concorrem para a protecção da saúde de todos os cidadãos.
Em 1979, "foi instituída uma rede de instituições e serviços prestadores de cuidados globais de saúde a toda a população, financiada através de impostos, em que o Estado salvaguarda o direito à proteção da saúde." Foi, assim, criado o Serviço Nacional de Saúde (SNS). (Lei n.º 56/79, de 15 de Setembro)
No entanto, em paralelo, existem outros subsistemas privados de saúde que têm acordos e convenções com hospitais, clínicas e médicos privados, tais como: subsistema dos seguros de saúde; subsistemas complementares de saúde, como a ADSE; subsistemas de seguradoras - acidentes de trabalho, viação/pessoas e vida; convenções com empresas, associações e outras entidades.
Alguns destes equipamentos e serviços são parcerias público-privadas (PPP), isto é, equipamentos e serviços de saúde concessionados pelo estado à gestão privada.
Inclui ainda acordos com IPSS que desenvolvem actividades no âmbito da saúde, como é o caso das misericórdias que respondem por actividades hospitalares, de cuidados continuados, de cuidados paliativos...
Há áreas que são praticamente asseguradas por privados como é o caso da medicina dentária. ("Os Seguros de saúde privados no contexto do sistema de saúde português", p.7)
E deve-se ainda referir o importante contributo dado pelas farmácias ao sistema de saúde.

Toda esta rede de cuidados de saúde significa que a assistência na saúde de muitos cidadãos é efectuada pelo SNS e/ou por outro subsistema de saúde. "A coexistência no sistema de saúde de serviços públicos com serviços e entidades privadas justifica que o SNS não preste a totalidade dos cuidados… 76% da população tem como único pagador o SNS, os restantes 24% utilizam outros sistemas… (14% da população está abrangida pela ADSE, 5% pelo SAMS (trabalhadores bancários). Com excepção da ADSE, nenhum outro sistema é auto-sustentável, confinando o SNS aos maiores níveis de cuidados." ("O sector da saúde em Portugal: funcionamento do sistema e caracterização sócio-profissional", p.8)
Quando pelo menos um quarto da população tem outro subsistema de saúde que não o SNS, não deixa de ser curioso que todos os cidadãos sejam obrigados a ter médico de família  do SNS, mesmo que não queiram ou que nunca tenham necessidade de ter outro médico de família para além daquele que sempre foi o seu médico.Tudo isto é contraditório e chocante quando sabemos que faltam mais de mil médicos de família para suprir as necessidades que existem, ou seja cerca de um milhão de cidadãos não têm médico de família.

O que podemos concluir é que temos governos que não confiam nos médicos, que gostam de sobreposições e redundâncias de serviços e não sabem articular serviços.
Dois exemplos ajudam a perceber o que se passa: as baixas por doença e as listas de espera para consultas e exames clínicos.
Se uma pessoa faz uma intervenção cirúrgica num hospital particular, porque tem um seguro de saúde, apenas no centro de saúde, em consulta com o/um médico de família, mesmo que não lhe tenha sido atribuído, pode validar a baixa por doença.

Há milhares de situações como esta em que os doentes estão sujeitos à burocracia do SNS, via centro de saúde. Não seria mais fácil se a baixa fosse declarada pelo próprio médico do doente ou pelo médico que fez a cirurgia, fosse de que subsistema fosse?
Só encontro uma explicação para não ser assim: a desconfiança dos médicos que não são considerados responsáveis pelo estado e passam baixas fraudulentas. Ora acontece que... com a burocracia do actual SNS "um quinto das baixas médicas controladas estava apto para o trabalho".(Público)

Algumas populações continuam com dificuldade de acesso ao centro de saúde e a consultas externas especializadas ou exames de diagnóstico nos centros hospitalares. Marcar uma consulta no SNS, centro de saúde ou hospital, é um verdadeiro tormento.
Como é possível ainda acontecer que haja cidadãos que têm que aguardar à porta do centro de saúde pela marcação de uma consulta ?
Incapacidade, atraso, ou apenas por maldade se pode fazer isto aos cidadãos mais desprotegidos.
Qualquer funcionário com um mínimo de capacidade saberia resolver esta situação.
Infelizmente continuamos a ouvir notícias destas (p.ex. "Chegar "às quatro da manhã" ao centro de saúde para ter consulta") sobre o pior de nós mesmos.

Desde o início, o problema do SNS foi o despesismo (A história secreta do SNS). Mas também o mau funcionamento que cria dificuldades injustificadas aos doentes, pela
- desconfiança na deontologia profissional dos médicos pois tem necessidade de confirmar por outro profissional o acesso a baixas por doença. Preferência pela burocracia, duplicações e redundâncias quando os médicos dos subsistemas particulares e privados podiam ser os médicos de família de muitos cidadãos que o não têm, podiam comprovar o que se passa com os seus doentes;
- incapacidade de gerir um simples acesso a consultas e exames clínicos obrigando os doentes a intermináveis listas de espera ou a estarem em bicha a horas impróprias, em condições climáticas igualmente impróprias para marcação de consulta.
Assim, os centros de saúde/estado não sabem gerir, articular, poupar... de forma a que a assistência na saúde se traduza num funcionamento eficiente e eficaz.
Com o actual governo foi-se ainda mais longe: a cativação de verbas do sector da saúde torna o SNS, cada dia que passa, mais disfuncional para quem nele trabalha ou dele necessita.