31/07/12

Multitarefa e condução

Tirada daqui

Os perigos do uso do telemóvel são de relevar. Mas os perigos do uso do telemóvel durante a condução são ainda mais complicados.
Nos USA, o Conselho de segurança nacional estima que 28% de todos os acidentes da estrada e mortes são causados por condutores que não têm atenção à estrada porque usam telemóveis.
Um estudo (psicólogos da Universidade de Utah, Jason Watson e David Strayer) de 200 voluntários constatou que apenas uma em cada 40 pessoas, aparentemente, pode conduzir um veículo muito bem durante a conversa ao telemóvel.

Não se sabe porque há tão poucas pessoas multitarefa na condução.
Os automóveis cada dia são mais sofisticados tecnologicamente e as tarefas que nos rodeiam enquanto conduzimos requerem comportamentos para os quais filogeneticamente não estávamos preparados.

Seja como for, se conduzir, não use o telemóvel. Porque os testes feitos mostram que apenas 2.5 % dos sujeitos pode falar ao telemóvel e conduzir com segurança.
Enquanto não soubermos o que acontece com a maioria das pessoas e dos seus cérebros,  é melhor não assumirmos que somos nós os privilegiados da evolução, e dificilmente seremos nós uma dessas pessoas multitarefa que conseguimos facilmente falar ao telemóvel e conduzir.

Prometa, pelo menos a si próprio, que é capaz de não falar ao telemóvel enquanto conduz.

"Choque de decência"

Foi assim que, ontem, em "olhos nos olhos", Medina Carreira se referiu ao que está a acontecer com o atraso das reformas em relação aos poderosos quando os mais fracos estão a ser fortemente penalizados. Por uma questão de equidade, de pedagogia e de decência.
Parece que há leis e leis, despachos e despachos, excepções e excepções.
Este é apenas mais um mero exemplo.
Podemos até achar que as excepções confirmam a regra mas o problema é quando as excepções são imensamente abundantes, deixando de o ser.
E começamos a perceber que a emergência nacional é só para alguns. Os mesmos de sempre.
Ser funcionário público é coisa que ninguém quer ser: no banco de Portugal, nas empresas públicas, nas empresas municipais, os assessores, os assessores dos assessores, os deputados, ninguém quer ser funcionário público...
Porque há quem esteja sempre protegido pelas leis que há ou que (venderam-nos agora esta) estão blindadas e que, pelos vistos, são leis que valem mais do que a própria Constituição porque nem sequer a Constituição é blindada já que pode ser alterada por dois terços do parlamento.
O contrato de trabalho dos trabalhadores da função pública foi rasgado em nome da emergência nacional. E, embora custe, estes trabalhadores compreendem e estão a fazer sacrifícios para que se possa pagar a conta que irresponsáveis engrandeceram.
Mas de cada vez que é aberta uma excepção percebemos que, afinal, a equidade vai ficando mais longe.
Há leis blindadas, há contratos que não podem ser alterados, há despachos que usam eufemismos, subsídio de natal e de férias passa a chamar-se abono complementar...
Mas há outras leis que não têm o mesmo valor. E a gente aí começa a desconfiar.
A gente quer viver segundo as suas possibilidades mas isto vale para todas as leis e para todos os cidadãos.
O que se passa com as leis dos salários da função pública, passa-se com as equivalências à bolonhesa de cursos universitários, as novas oportunidades (veja-se o eufemismo: igualdade de oportunidades virou novas oportunidades, que alguns agora até já querem reabilitar), com as reformas dos políticos em que ninguém está interessado em mexer, com as empresas municipais, PPP, rendas, fundações...
É tempo de vermos um sinal. De decência.

29/07/12

La mer

Alvor, 28-7-2012

La mer   
Qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent
...
La mer
A bercé mon coeur pour la vie
(Charles Trenet) 

24/07/12

Metas, competências, metas, competências...



Andamos à volta, viciosamente, deste assunto. Provavelmente, num próximo governo, vamos voltar às competências. Competências gerais, específicas, essenciais. Dependerá do gosto do ministro.

No fundo, em algum momento do processo curricular estamos a falar de uma coisa ou outra.
No parecer do CNE, podemos ler que as metas são evidências do desempenho das competências:
"Desses pressupostos destacamos que “as metas de aprendizagem são entendidas como evidências de desempenho das competências que deverão ser manifestadas pelos alunos, sustentadas na aquisição dos conhecimentos e capacidades inscritos no currículo formal, constituindo por isso resultados de aprendizagem esperados” e “serão sempre expressas em termos do desempenho esperado por parte do aluno.”

Reconhece que 
"perante a desorganização curricular que hoje se verifica, a importância de que se reveste a construção de um dispositivo de apoio à gestão da actividade curricular destinado, sobretudo, a melhorar os procedimentos de monitorização e avaliação das aprendizagens, com vista à regulação e readequação sistemáticas do trabalho curricular dos alunos e dos professores. As Metas de Aprendizagem, tal como foram apresentadas, pretendem responder a essa necessidade."
E alertava
"Vê-se, porém, com apreensão a introdução em simultâneo nas escolas de um conjunto de novos dispositivos com incidência directa na actividade curricular, designadamente, o novo acordo ortográfico, novos programas e respectivos manuais, nova terminologia linguística, o documento Metas de Aprendizagem, bem como a reorganização curricular do ensino básico e secundário a terem de corresponder conjugadamente aos objectivos do Programa Educação 2015 para a elevação das competências básicas dos alunos portugueses e a avaliação respectiva da sua evolução.
Esta situação invulgar vai requerer um forte esforço de mobilização e acompanhamento destas políticas, a nível nacional, envolvendo todos os potenciais interventores, a fim de que se consiga fazer convergir e harmonizar tantos factores conflituantes."
Estamos nessa: Situação invulgar.
O que não entendo mesmo é o cavalo de batalha  de que com a taxonomia de Bloom os alunos vão aprender melhor do que com o construtivismo de Piaget.

23/07/12

3720

"Com este anúncio, o número de escolas do primeiro ciclo encerradas desde o ano letivo 2005/2006 sobe para 3.720. No próximo ano estarão em funcionamento 2.330 escolas a leccionar até ao quarto ano de escolaridade."
"Por regiões, na área abrangida pela Direcção Regional de Educação do Norte é onde vão encerrar mais estabelecimentos (126), seguida do Centro (66), Lisboa e Vale do Tejo (33), Alentejo (10) e Algarve (três)."

Interessante: fecharam 3720 escolas e vão funcionar 2330.
Afinal, o que é que mudou ?
Estejamos descansados ! É "atendendo à melhoria da qualidade de ensino"!

19/07/12

A fé do(s) homem(ns)

Saudades do tempo em que D. Januário exigia “deixem-nos pensar”.
Agora está tudo pensado: há anjos e demónios. Uma questão de fé. Uma fé que acabou de definir quem são os anjos e quem são os demónios. Agora fez-se a luz que rompeu as trevas.
Os anjos podem gastar à tripa-forra e lixarem a vida das gerações futuras. E não são responsáveis por nada. Os anjos vivem na rive gauche, ou mesmo só na gauche. O céu na terra.
Os anjos não precisam de procurar a equidade porque eles são a própria equidade. Está tudo certo com os anjos. Fazem tudo para bem do povo.
Os demónios estão todos no governo. Esforçam-se por pagar a factura que outros deixaram lixando a vida à actual geração.Vivem em massamá ou numa linha da direita. Um inferno na terra. Fazem tudo para mal do povo.
Estão onde é tudo errado e iníquo. Irão parar "às profundezas do inferno" onde Luís Garra "os irá perseguir" para todo o sempre.

É a fé do homem em políticos maus e políticos bons e que já não precisa de pensar.

Mas não será a fé de D. Januário que me fará perder a Fé.

Há muito tempo que perdi a fé nestes políticos  e nestes crentes mas não vou perder a liberdade de escolher pensar.
Escolher continuar a pensar numa busca incessante de ver alguma luz no comportamento humano em que todos somos anjos com pés de barro.

Aqui (M. Filomena Mónica, "Os barões do regime") pode estar esta evidência.

Credores

Fala-se dos mercados como qualquer coisa indefinida. Ou então de uns malandros neo-liberais que existem algures nos paraísos fiscais em ilhas minúsculas, lá onde o vento dá a curva... 
Parece que os mercados são mais concretos e estão mais perto de nós do que podemos pensar.

12/07/12

Quantos são os alunos com NEE?

O Correio da Manhã divulgou o número de alunos com NEE baseando-se num relatório da UE.
Num total de 615.883 alunos, 48.802 têm necessidades educativas especiais (8%).
Além disso, 1.929 (0,3 por cento) frequentam escolas especiais segregadas e 5.321 (0,9 por cento) estão em classes especiais segregadas.
A população escolar em Portugal no ensino obrigatório não tem nada a ver com o número referido pelo jornal que não se sabe então a que se refere.
Source: European Agency for Development in Special Needs Education, Country Data 2010

Além disso, o relatório refere 35894 (2,7%), em 2010, que parece um número mais ajustado ao que sei desta realidade.

Se fosse como na notícia do Correio da Manhã, estávamos bem longe dos objectivos traçados pelo governo anterior que apostava em 23 000 alunos com NEE.
Tanto no primeiro caso como neste me parece exagero. Há aqui qualquer coisa que não está certa. 



Em 2009, os números do ME eram os seguintes:


Isto é, a informação do jornal, repetida em vários blogues, só pode estar errada. Mas também o que é que isso interessa ? Não temos nem merecemos melhor ?
(Actualizado em 19-7-2012)



O relatório da IGE, Educação Especial: Respostas Educativas - Relatório 2010-2011, em 46 escolas intervencionadas, num total de alunos de 67499, refere o seguinte:
Constata-se que o número de alunos a quem são prestados apoios especializados no âmbito da Educação Especial (3040) corresponde a cerca de 4,5% do total de alunos das escolas intervencionadas (QUADRO 3). Verifica-se também que, dos 1637 grupos e turmas que incluem crianças e alunos com NEE, 795 têm redução do número de crianças e alunos, correspondendo a 48,6% do total de grupos e turmas. 

 (Actualizado em 23-7-2012)


Exames, fraudes e outros problemas

 Assistimos por esta altura do ano à discussão sobre se os exames foram mais fáceis ou mais difíceis do que no ano anterior. Se são fáceis é facilitismo se são difíceis é excessivo rigor ou os alunos não estavam preparados para este tipo de exames...
Pede-se a demissão do director do gabinete de avaliação (GAVE). Critica-se o ministro. Critica-se a escola, criticam-se os alunos porque não estudam.
Eu estou convencido de que os exames vão ser sempre controversos.
Obviamente, serão menos controversos se o sistema educativo, currículos, metas, manuais, organização e gestão de turmas, apoios, necessidades educativas especiais, estiver mais estabibilizado. Este é o problema mais importante. Estabilizar o sistema educativo.
As reformas devem ser testadas a longo prazo, e no final, avaliar e mudar, se necessário.
As mudanças do currículo devem reflectir as mudanças na sociedade, as mudanças devem depender da resposta a esta questão: o que mudou na sociedade.
As mudanças económicas, porque não há dinheiro ou porque há muito, reflectem-se necessariamente na educação mas há limites que não devem ser ultrapassados.
Quer em tempos da vacas gordas ou magras os exames serão sempre fonte de controvérsia.
Qual é o parâmetro para os exames serem considerados fáceis ou difíceis ? Em termos individuais, para os alunos que têm negativa serão sempre difíceis.
Para o sistema educativo, quando é que são difíceis ? Quantos alunos podem chumbar ? 10% ou 90% dos alunos ? Claro que o sistema nunca admitiria uma coisa dessas e mudaria os critérios de correcção até se aceitar um "número razoável" de chumbos. 
Em sociedades com sistemas educativos mais estabilizadas acontece essa controvérsia.
Mesmo quando existem testes padronizados, os exames que seleccionam alunos para universidades americanas SAT(Scholastic Assessment Test) e ACT (American College Testing) surgem problemas de fraude. Há alunos que de uma forma fraudulenta fazem os exames por outros que são pagos para isso. Agora vai ser exigida a fotografia para inscrição nas universidades que será confrontada com a fotografia exigida para o exame.
Há faculdades nos EUA que mentem para melhorar a posição nos rankings. O mundo académico ficou decepcionado, mas não surpreendido porque a prática é comum.
Várias faculdades nos últimos anos têm sido acusadas de tentar burlar o sistema principalmente alterando os significados das regras, apresentando apenas os dados positivos ou simplesmente mentindo.
Mas o problema é mais extenso. As empresas que fazem os exames preparam os alunos para fazerem os exames e estudar acaba por ser estudar para os exames.

Apesar de tudo os exames são uma forma de avaliação importante na regulação das aprendizagens e na classificação para entrada na universidade mesmo com os problemas e as fraudes que sempre aconteceram, acontecem e vão continuar a acontecer.

Bem, é tempo de esquecer os exames porque este é tempo de férias .
Boas férias para todos.

08/07/12

País, fundação e afundanço

Sabe qual é a diferença entre dirigir um país ou uma fundação?
É esta.
É por isso que o país está neste afundanço.

Outsourcing

O problema é mesmo o da desregulação completa do outsourcing. Finalmente, percebeu-se o que estava a acontecer e aonde leva esta forma de gestão.
São também os nutricionistas, os psicólogos...
Trabalho igual salário igual.
A equidade também se deve aplicar aqui.
O ministro da saúde, Paulo Macedo, falou na indexação à base da tabela salarial da respectiva carreira. É um grande progresso.
Pelo tal princípio, deve aplicar-se a todos os outros trabalhadores: médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, professores, etc.

05/07/12

"Tratantes"

Entre os privilégios que ainda existem em Portugal – e que seria bom que acabassem, uma vez que o país, como bem manifestou ainda a última questão das ostras*, começa a odiar todo o privilégio - contam-se em primeira linha os privilégios que a chamada carreira política permite àqueles que a seguem.
Para servir tais privilégios, a opinião pública obteve meios de dividir uma coisa essencialmente indivisível e una –a probidade – em probidade política e probidade individual.
Uma vez admitida esta casuística um tanto imoral, o indivíduo considera-se irresponsável perante a sociedade por todas as ignomínias, por todas as baixezas, por todas as infâmias que comete na política. É vulgar dizer-se: “Velhaquíssimo em política, mas de resto um perfeito cavalheiro!”
Ora nós não queremos defender o privilégio para a engorda da ostra. Notamos só que a política assim considerada fica sendo igualmente - uma ostreira de tratantes.


Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão (Coord. M. Filomena Mónica), As Farpas, Principia, pags. 157 e 158.

*Refere-se ao marquês de Nisa que teve o monopólio da cultura das ostras, em viveiro, ao longo de parte da costa portuguesa.


Só mudaram as ostras...

02/07/12

Fechar escolas: o barato sai caro

aqui nos referimos  a este processo desastroso que tem sido o encerramento de escolas por todo o lado em nome de critérios que estão longe de serem consensuais entre os pais, autarquias e ministério e inconsistentes com os princípios científicos da educação.
A vaidade (e a reeleição para quem faz obra!) levou este país a isto: fizeram equipamentos sociais por todo o lado, piscinas, pavilhões, polidesportivos, parques infantis e de idosos... para (quase) ninguém  e puseram as crianças em parques escolares nas sedes dos concelhos.

No caso das escolas não era preciso obras grandiosas  e não era necessário fazer outras construções. Decidiram acabaram com escolas com menos e muitas com mais de 10 alunos, contra a vontade dos pais, sublinho contra a vontade dos pais, para as levaram para vários quilómetros de distância... e ficarem durante todo o dia em equipamentos dourados mas longe do afecto dos pais.

Tantas alternativas... Por que não se desenvolvem projectos a nível das escolas de pequena dimensão ou das escolas rurais ? A diversidade é uma realidade: o ensino doméstico, os projectos de ensino para alunos hospitalizados, o ensino para os  alunos filhos de profissionais itinerantes...
  

Disciplinas essenciais ?

Podemos estar de acordo que as disciplinas essenciais são aquelas que o ME acha que são. Podemos até estar de acordo que isso é verdade para a maioria dos alunos. Mas não estamos de acordo que o seja para todos os alunos nem que os outros, a maioria, possam ter uma educação equilibrada sem os conhecimentos das disciplinas que não têm esse qualitativo.


A escola esteve e está excessivamente aberta a todo o tipo de programas, projectos, actividades que surgem de todos os lados. Deram-se conta, finalmente, de que a sua mensagem passa melhor se for veiculada pela escola ... e a dispersão das actividades com prejuízo das aprendizagens essenciais é evidente porque, no fundo, o ensino básico serve para ensinar e aprender ...o básico.
A questão é que há tanta diversidade na personalidade dos alunos (há tantas inteligências) e dentro do básico (há tantas disciplinas, metodologias e formas de pensar) que o que está em jogo passa pela mudança de mentalidade.
Enquanto essa mudança de mentalidade não for acontecendo, o círculo continua: educação física conta, não conta, para a média, evt/ev/et, dois professores, um professor, música sim música não, menos horas mais horas...
O que são disciplinas essenciais para um aluno concreto ?
Ken Robinson fala da importância da experiência estética como um conhecimento fundamental...

Outsourcing

A organização do trabalho mudou. Para C. Dejours, nas organizações mudaram principalmente três coisas: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada “qualidade total”; e o outsourcing que tornou o trabalho mais precário.
Já aqui falámos na avaliação individual de desempenho. O outsourcing é outro dos instrumentos de gestão de RH que se foi degradando e degradou as relações laborais.
"Isto porque a ideia inicial de buscar fora da empresa, outras empresas que pudessem fornecer serviços especializados, com maior know how, em determinadas áreas para que a empresa contratante pudesse focar sua pesquisa e desenvolvimento somente no core business da organização, obtendo, com isso, maior qualidade por um custo menor do que aquele que teria que desembolsar para ter a suposta mesma qualidade utilizando mão de obra, treinamento e desenvolvimento próprios, foi sendo distorcida a ponto de abortarem a ideia da qualidade, treinamento e desenvolvimento da mão de obra, e focaram apenas na redução de custos a qualquer preço. Essa distorção fez com que a nova linha praticante desta ferramenta passasse a abrir mão justamente do que dava qualidade ao sistema imaginado, para que seu custo fosse barato e hoje, acaba sendo sinal de baixo custo por baixa qualificação."
Entre nós, foi preciso chegar à saúde com a "contratação de médicos pelo valor mais baixo" e de enfermeiros a valores ridículos para que, finalmente, o clamor tivesse relevo.
Notícia de 16 Abril 2012 refere que bastonário e sindicatos dizem que a contratação de profissionais mais baratos põe em causa a qualidade dos serviços. Em nove concursos lançados desde o início do ano, todos impõem a condição do preço mais baixo. 

Apesar das justificações, esta é uma forma de contratação que só pode pôr em causa a qualidade dos serviços e a desumanização das relações laborais. De todos os serviços e organizações: de saúde, de educação, de apoio à infância...

Outros profissionais como acontece na segurança social: técnicos de serviço social, psicólogos, como no caso da contratação para as CPCJ, como no caso da contratação de empresas de call-center para a segurança social, veja-se Castelo Branco... Parece aliás que a segurança social chegou à conclusão que se este serviço fosse feito directamente pela própria segurança social ficaria mais barato.
Como na educação: os professores das AEC são contratados desta forma ou parecidas. Veja-se por exemplo: as empresas escolhidas pela autarquia "contratam" os professores (a recibos verdes, claro) e distribuem-nos pelas escolas do concelho. Daqui resulta uma grande discrepância nos ordenados dos professores das AEC: há professores a ganhar 8 euros à hora e outros a ganhar 15, conforme a empresa que os "contrata".

Mas não é só no outsourcing que o pior dos RH, a precariedade e desumanização, se faz também sentir, a par das vantagens que ele possa ter.
A precariedade e desumanização está hoje presente na gestão dos RH dos serviços do estado: a contratação temporária feita anualmente para muitos técnicos sem que vislumbrem um vínculo, sem que haja uma carreira ou concurso, sem que tenham a possibilidade de continuidade e estabilidade. São contratados de Outubro a Junho, todos os anos, pelo mesmo preço, mesmo que levem 5 ou 10 anos de experiência...