23/05/12

Escola e protecção da infância


Participei, na semana passada,  nas jornadas de reflexão organizadas pela Comissão de Protecção de Idanha-a-Nova (CPCJ).
O tema andava à volta de "Como proteger as crianças nos dias de hoje", "Ser criança é ser feliz".
Sem dúvida, actualmente, as crianças estão mais protegidas do que no passado e ser criança em Portugal é poder ter a certeza de que a comunidade está mais atenta à sua felicidade.
Mais um vez tive oportunidade de ouvir o Juiz Armando Leandro falar sobre aquilo que lhe é caro que é a prevenção das situações de perigo e de que compete a toda a comunidade prevenir essas situações. As instituições da comunidade devem mobilizar-se para que os riscos e os perigos de desenvolvimento sejam cada vez mais reduzidos.
Como costuma referir, só podemos ter um futuro de qualidade se tivermos uma infância de qualidade. É aí que está o aspecto essencial do nosso trabalho: fazermos com que a infância seja de qualidade.

Infelizmente, os números de casos acompanhados pelas Comissões não param de crescer e os resultados da avaliação indicam-nos que o número de processos tem vindo a aumentar.
Em 2010, último ano com dados disponíveis, as Comissões acompanharam 68300 processos.*  Em Castelo Branco, foram acompanhados 761 casos (1,1% do nacional).
As sinalizações de perigo, isto é, os casos em relação aos quais foi dado um alerta à Comissão de Protecção de que uma criança poderia estar a ser vítima de maus tratos, foram da responsabilidade dos estabelecimentos de ensino, 24,2% (7863 sinalizações); autoridades policiais 19,0% (6160), pais/cuidadores 8,1'/0, (2731) e dos estabelecimentos de saúde 7,1% (2350).
São de facto as escolas que estão mais vigilantes em relação à protecção das crianças. É também, nesta perspectiva que podemos dizer que as escolas são locais seguros para a infância e, em interacção com as instituições, para a defesa dos direitos das crianças. As escolas estão na linha da frente na efectivação da protecção dos direitos da infância.
As situações de perigo referenciadas incidem, maioritariamente, em cinco problemáticas: negligência 38,2% (22564); a exposição a modelos de comportamento desviante 17,5% (10371); o abandono escolar 13,3% (7856), os maus tratos psicológicos/abuso emocional 13,0% (7684) e os maus tratos físicos 7,1% (4216).**

Este panorama informa-nos sobre os maus tratos a que as nossas criança são sujeitas. É um sofrimento insuportável para as crianças e uma grande apreensão para a comunidade quando tantas crianças não têm este elementar direito de não serem batidas  e em vez disso terem direito ao afecto, ao carinho.
Pelos problemas detectados pela comissões de protecção, percebemos melhor as dificuldades que muitos alunos têm na escola.
Mas o que nos dá esperança é que os maltratantes estão hoje com a vida mais dificultada e as crianças contam com a lei do seu lado para que possam ser mais felizes.
Como dizia o psicólogo Paulo Sargento, nos maus tratos e na negligência, a escola ensina mas também cuida: Vê o invisível, escuta o inaudível, guia para soluções e tem vigilância protectora.
E, às vezes, a escola é a primeira a ver...  aquilo que os próprios pais não vêem.
O sistema de protecção de crianças e jovens, incluindo o trabalho das escolas, é uma resposta de excelência para que a infância possa ter cada vez mais qualidade.
* Destes processo foram arquivados 35501.No final do ano permaneciam activos (transitaram para 2011) 32799 processos. Note-se que, pela primeira vez, diminuíram o número de processos activos no final do ano. Para esta diminuição, cifrada em menos 2226 processos do que aqueles registados em 2009, contribuiu, decisivamente, o aumento significativo do número de processos findos (Em 2010, existiram mais 3630 processos arquivados liminarmente ou arquivados /remetidos após o início da intervenção).

** Registando valores percentuais menos representativos do total das situações de perigo seguem-se, por ordem decrescente: Prática de facto qualificado como crime 3,0% (1765); o abandono 2,1% (1224),. o abuso sexual 1,9 %(1150) e o uso de estupefacientes 1% (597).

21/05/12

Small is beautiful


"Nós estamos a sofrer, presentemente, de uma idolatria de gigantismo quase universal" (Schumacher, pag.59)
Continuo a não perceber as razões que levam à criação de mega agrupamentos.
Este é mais um dossier inquinado do anterior governo. Em vez de ser abandonado foi piorado.
Economia de escala na educação ? Há limites para o (dis)funcionamento das escolas ?
Será que em Mafra pode acontecer isto ? Ou vai acontecer como em Alenquer ? ...

Televisão gratuita ?

"Pode continuar a receber televisão de forma gratuita"... 


Mas depois todos os meses paga, com a sua factura de electricidade, uma "contribuição áudio-visual" e o respectivo imposto sobre a contribuição que é um imposto.


Actualizado em 13-6-2012
E ainda mais esta sobre a qual incide o imposto, perdão, contribuição.

Actualizado em 12-8-2012
O "Sol" de 10-8-2008, informa-nos:
TDT favoreceu operadoras. "Apagão" da rede analógica empurrou 276 mil lares para a televisão paga, o que renderá mais 118 milhões de euros aos privados.


Isto é o que se chama ganhar a dois carrinhos: pela via da "contribuição" e pela via do "empurrão".

16/05/12

O bom, o mau e o desejável



O stress é a resposta fisiológica e de comportamento de um indivíduo que se esforça para se adaptar e ajustar a estímulos internos e externos. (Ballone)
O stress é também um fenómeno subjectivo. É diferente de pessoa para pessoa e aquilo que é perturbador para alguns indivíduos pode ser agradável para outros.
Se as pessoas reagem de forma diferente aos estímulos da vida, elas também terão limiares diferentes de esgotamento devido ao stress.
De um modo geral, um baixo stress é considerado normal e desejável para a nossa saúde. Este stress positivo aumenta a vitalidade, o optimismo e a motivação…
Há investigações (com ratos) que mostraram que o stress agudo, como o de um pequeno evento stressante, melhora a memória. *
Por outro lado, o stress exagerado e prolongado pode ser patológico e tem consequências prejudiciais para a saúde. Os elevados níveis de cortisol, provocam alterações de áreas do cérebro acabando por resultar num enfraquecimento da memória. **
Podem aparecer a fadiga, irritabilidade, falta de concentração, depressão, queda da resistência imunológica, dores de cabeça, dores de barriga, dores musculares, insónia, dificuldade de concentração; dificuldade de aprendizagem, etc.
Os factores de stress encontram-se no meio em que vivemos e nas mudanças que ocorrem nas nossas vidas e sobretudo na velocidade dessas mudanças às quais temos que nos adaptar para sobrevivermos.
Para além dos factores de stress familiar, como a exposição a contextos familiares permanentemente violentos, os alunos têm alguns factores acrescidos de stress que os podem afectar nas suas aprendizagens.
As situações de avaliação como testes e exames, são situações stressantes e o stress pode ser maior ou menor conforme a confiança que o aluno tem em si próprio e nas suas capacidades.
Por isso, os pais, os professores e os técnicos devem ajudar os alunos a enfrentar esta situação:
- as estratégias de controlo emocional, levando a maior confiança do aluno nas suas capacidades.
- o confronto com as tarefa que têm a ver com o treino a que o aluno é sujeito para enfrentar as situações stressantes da avaliação, evitando surpresas, e tornando o processo de avaliação como um procedimento normal da aprendizagem.
É por isso que não faz muito sentido a existência de testes surpresas, para além de não fazerem parte do sistema de avaliação…
- o aluno deve saber que há pessoas de confiança na escola: os professores são de uma maneira geral um factor de protecção para os alunos e a interface humana com as instituições sociais de protecção.
- os professores e os técnicos podem aconselhar e orientar os alunos nas suas dúvidas e dificuldades,
reduzindo assim a ansiedade que muitas situações relacionadas com a escola provocam, para além da avaliação, como a mudança de escola, a mudança de nível de ensino, a mudança de professor...
Podemos concluir que há bom e mau stress e até stress desejável mas os sintomas que os alunos apresentam são para levar a sério.
Saber distinguir os factores de stress que podem fazer mal daqueles que podem ser motivadores deve ser também uma competência dos educadores.

* Zhen Yan,  Universidade de Buffalo, EUA.
** Sonia Lupien , Universidade McGill de Montreal, Nature Neuroscience

Situações ordenadas em função da capacidade para provocar stress
(Enciclopédia de Psicologia, vol. 3, Oceano, pag. 486)

12/05/12

Os meus discípulos...

O perigo: queremos que a mudança seja a nossa mudança. É por isso que


"Do que você precisa, acima de tudo,
é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim,
pense sempre por você;
fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus.

Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas.
Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha.
É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu;
mas, nessa altura já o pensamento lhe pertence.
São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim;
porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem."

Agostinho da Silva


A fada má e o feiticeiro de Oz




As condições de vida nunca são fáceis (struggle for life) para a maioria das pessoas. No entanto, há períodos da história pessoal e social em que essas dificuldades se acentuam tornando-se insuportáveis.
São períodos da vida em que estamos mais frágeis e o stress é maior. Sabemos que “stress máximo manipulação iminente”. É o que está a acontecer connosco neste momento e por isso é necessária redobrada atenção aos manipuladores.

Vivemos no tempo de todas as informações mas também de todas as manipulações. Às vezes sem darmos por isso a publicidade, o marketing e a doutrinação vão fazendo o seu percurso com as perversidades inerentes.
Se a publicidade e o marketing não servissem para nada não se gastava um cêntimo neles. Certamente servem para aumentar as vendas e os lucros das empresas e não tenhamos dúvidas de que influenciam as nossas decisões. Claro que é difícil sabermos até que ponto estamos sujeitos a estas influências dado que muitos dos mecanismos da manipulação são pouco visíveis.
Os media estão cheios dessas manipulações. A opinião é servida de muitos modos mas sempre com o objectivo de ser eficaz mesmo quandoesses mecanismos não estão identificados, incluindo os comentários dos politólogos e dos tudólogos que com aparência de independentes, todos os dias, nos tentam doutrinar com algumas evidências, durante horas, muitas vezes, sem contraditório.
Esta minha opinião não está isenta dessa componente. Ao escrevê-la estou à espera de que alguém a leia e concorde com ela e esse é o perigo: queremos que a mudança seja a nossa mudança.
O que separa o debate da manipulação ? Onde acaba a educação e começa a doutrinação ?
A manipulação e a doutrinação são lavagem ao cérebro. Tem duas fases: a primeira é eliminar as crenças anteriores e depois instaurar as novas crenças.
Há campos mais fáceis de penetrar como é o caso dos jovens, pelo desejo de pertencer a um grupo em que as convicções de uns membros são suficientes para alimentarem as convicções dos outros.

Vivemos tempos muito interessantes… em que os acontecimentos se sucedem a um ritmo intenso mas tão depressa como surgem, desaparecem. Existem enquanto são falados na comunicação social e quando a comunicação social deixa de falar neles a gente também muda de capítulo: O pingo doce e a Holanda, a corrupção, as reformas dos políticos, as associações secretas, as escutas e os serviços secretos, as crianças desaparecidas, os casos do futebol e … outra vez … o pingo doce.
Temos um regime constitucional e instituições democráticas que têm por função cumprir e fazer cumprir a constituição, mas não deixa de ser preocupante que, entre nós, apareçam os avaliadores da democracia, militares e civis, quais agências de rating politico que fazem peremptórios avaliações: o governo já ultrapassou os limites, o governo já não tem legitimidade para governar, o governo não vai chegar ao fim…
e  Hollande vai mudar a Europa …
Como na estória, o feiticeiro de Oz, depois de aniquilada a fada má do oeste, vai dar cérebro a quem o não tem, coração a quem dele precisa e muita coragem a todos.
O problema é que os que andamos cá nesta terra não temos tal feiticeiro e apenas podemos contar com o nosso trabalho e a nossa esperança.

Nota: o cap. VI, do livro referido, de E. Punset trata do "lavado de cerebro" com referências a Kathleen Taylor, Stanley Milgram, Humberto Trujillo, Juan Martínez.

04/05/12

PIT


Este é o esquema encontrado por uma escola  (há outros...) para se entender uma coisa legislativa que dá pelo nome de PIT - plano individual de trabalho.
É o ex-líbris da legislação burocrático-educativa da governação anterior.
O que é estranho é que se mantém em vigor. Porque será que é preciso tanto tempo para o revogar ?

É urgente a psicologia


Apenas algumas notas do meu moleskine.
O Congresso dos Psicólogos Portugueses foi, para a psicologia, sem dúvida, um importante acontecimento realizado no nosso país ainda que com um atraso assinalável em relação ao desenvolvimento que a psicologia teve noutros países.
Houve intervenções marcantes sobre o momento da psicologia.
Foi numa perspectiva de optimismo que decorreram as intervenções sem se perder de vista o que está a acontecer a uma ciência com cerca de 50 anos em Portugal. Passou-se de uma fase em que praticamente não havia psicólogos, para a linha da frente em número de profissionais de psicologia. A psicologia, em Portugal, tem neste momento 32 cursos universitários, uma ordem com 18 mil inscritos (dos 24000 licenciados) e o país passou a ter o rácio mais elevado da Europa de psicólogos por habitantes.
Genericamente positivo, estes números têm algumas consequências sendo a mais evidente o desemprego existente.
Eduardo Sá falou da psicologia e o futuro. Onde chegamos e o que enfrentamos.
Se a humanidade está mais democrática e mais bonita, fizemos muitos progressos na educação e passámos a ter educação para todos, também há muitas preocupações. Vivemos numa sociedade pouco virada para o futuro.
Continua a verificar-se a fractura entre ciências exactas e ciências humanas.
Temos uma escola que se diz inclusiva mas não é acolhedora.
Vivemos um tempo mais amigo do número do que da palavra.
Mais escola não significa melhor escola.
Uma escola que separa a educação infantil da educação obrigatória.
100 000 crianças reprovam todos os anos no ensino básico.
Aulas de 90 minutos com intervalos de 10 e sem tempo para brincar.
Mas o melhor do mundo são as pessoas e por isso é urgente a psicologia.

Margarida Gaspar de Matos falou de optimismo. Ao contrário do que se ouve dizer, a violência na escola tem vindo a descer.
Também sabemos que quando os professores se interessam pelos alunos as coisas correm melhor na escola.
A maioria do jovens (80%) passa a adolescência sem problemas. Os casos graves são cerca de 5%.

José Maria Peiró falou das consequências que a crise tem para as organizações e empresas mas também para as pessoas: os trabalhadores e as famílias.
A crise vem tornar mais evidente a necessidade dos profissionais de psicologia.
Mas nos debates sobre a crise apenas ouvimos falar economistas, banqueiros, políticos quando nos dizem que o problema é de confiança, de credibilidade, de esperança… é um problema das pessoas e por isso devia haver psicólogos a dizerem o que têm a oferecer às pessoas para melhorarem a sua vida.
Cada vez mais trabalhar não é uma questão de mão de obra mas de cabeça de obra e coração de obra
Na vida pode-se ganhar e pode-se perder. Há empresas com boa qualidade de vida laboral mas sem produtividade. E isso é insustentável.
O que pode acontecer nesta crise é sabermos se queremos ambos perder, empresários e trabalhadores, ou se ambos queremos ganhar.
Tem que haver um bem-estar que seja sustentável.

Gillian Hardy trouxe a experiência da intervenção por vários níveis em saúde mental. Algumas pessoas necessitam de apoio psicológico mais ou menos profundo.

Em todos estes campos, os psicólogos podem ajudar.